março 07, 2016

Os filhos dos outros.




Preocupa-me as crianças que não são felizes. Não sei se a minha vai ser sempre feliz, mas eu prometo perante todos a esforçar-me por isso. E ser feliz não é ter alguém que lhes faça as vontades todas. Ser feliz é muito mais que isso. Ser feliz é conseguir estar no silêncio a ler. É conseguir ficar sozinha no quarto a brincar. É não precisar que eu esteja sempre lá. É cantar sempre que se ouve uma música gira. É dançar. É levar as mãos acima da cabeça de cada vez que se vê alguém de quem se gosta. É chorar quando tem de ser. Ser feliz não é ser mimada. Ser feliz não é ser caprichosa. Ser feliz é ser educada. Ser feliz é isto tudo e mais um par de coisas.

Eu fui feliz na maior parte da minha vida, e mesmo nos momentos mais tristes, tive a certeza de um amor maior e isso é das coisas mais felizes que existem. Quero que as minhas filhas também tenham esta certeza. Quero que quando a vida lhes correr mal (e irá correr algumas vezes, pois se for de outra maneira não se pode chamar vida) saibam que têm um colo (ou vários...eu tive vários) e que este colo as sustenta enquanto elas precisarem. Preocupa-me as crianças que não têm colo...

Custa-me (imensamente) ver filhos que não têm este colo. Que nem sequer têm as necessidades básicas asseguradas, quanto mais as necessidades emocionais. Mas eu estou a falar de outro tipo de necessidades...aquelas que dão segurança para crescer e se tornar uma pessoa feliz. 

Se soubessem (nem eu sei) o número de crianças infelizes...crianças sem afecto...crianças sem colo...crianças sem abraços...crianças sem sorrisos...crianças sem amor...e isto não é válido para pessoas que não têm dinheiro para comprar roupas caras nem ténis de marca...existem tantas pessoas com dinheiro para isto tudo, mas que não têm dinheiro para o resto...porque o resto não se compra...há tantos filhos sem pais...mesmo os que os têm...

Há pais exigentes de mais, pais exigentes de menos, pais que não exigem nada, pais que não deixam os filhos ter vontade própria, pais que querem que os filhos sejam médicos (ou advogados, ou outra coisa qualquer...). E os filhos destes pais não serão, seguramente, felizes. Pais assim-assim, pais desleixados, pais a quem importa mais a imagem, pais para quem a opinião dos filhos não conta. Filhos que crescem à sombra das vontades dos pais, esquecendo das deles próprios. Pais que têm filhos mas não se dão conta de os ter.

Se algum dia a minha filha tiver uns pais assim...então quero que me digam. A minha mãe, a minha sogra, a minha irmã, o meu cunhado...alguém na rua...mas por favor não fiquem calados...porque estão a ser cúmplices da destruição de um ser!

Filhos que crescem sem ninguém dar conta. São esses filhos que me preocupam. Mas verdade seja dita, não há muito que eu possa fazer, porque em cada casa mandam as pessoas que lá vivem, e até há aqueles pais que fazem isto tudo e julgam estar a fazer bem.

Beijinhos

2 comentários:

  1. Estou encantada com a sua escrita. Á bastante tempo que não lia nada assim. Desde estes textos de opinião aos contos...Não desista e continue a presentear-nos com mais textos brilhantes como este.

    Joana

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